Você conhece a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza da Cerveja de 1516?

Você conhece a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza da Cerveja de 1516?

A Lei da Pureza da Cerveja de 1516, também chamada de Reinheitsgebot (boa sorte com a tentativa de pronunciar isso!), foi uma lei surgida e em vigor na Alemanha medieval e que dividiu o mundo cervejeiro e traz influências até os dias de hoje.

A tal lei foi promulgada por Guilherme IV, Duque da Baviera, e determinava que, para ser denominada como cerveja, a bebida só poderia conter os seguintes ingredientes: água, maltes de cevada e lúpulo. 

Mas e o levedo, fermento cervejeiro? Como a microbiologia só foi iniciada séculos depois, com Louis Pasteur, ainda não se tinha conhecimento deste processo e o levedo acaba não constando na lei.

Mas por que houve essa preocupação na Alemanha com a pureza da cerveja, determinando inclusive os ingredientes que deveriam ser utilizados? Senta que lá vem história! Primeiramente, você precisa saber que a cerveja é uma bebida ancestral e, até aquela época, muito difundida na cultura europeia. Era preparada com diversos ingredientes diferentes que mudavam de região para região, de acordo com o que se tinha disponível ali.

Era comum a utilização do “Gruit”, uma mistura de temperos e ervas. Esse “Gruit” era diferente em cada região e às vezes podia conter ervas alucinógenas e tóxicas na sua composição, o que acarretava em muitos problemas de saúde.

Assim, surgiu o primeiro decreto cervejeiro em 1156, em Augsburg, pelo imperador Barbarossa. Chamada de Justitia civitatis Augustecis. A lei determinava que se algum taverneiro servisse uma bebida de má qualidade ou em medida desleal em sua taverna, poderia ser multado e ter seu estoque confiscado. Era um decreto com relação à qualidade da cerveja e não aos seus elementos.

Algo muito parecido com a lei da pureza surgiu em Munique, em 1447. O preço do pão estava muito caro devido ao fato de os cereais usados para fazê-lo estarem sendo utilizados para a produção da cerveja – um produto de maior valor agregado e mais lucrativo. Determinou-se, também, a substituição do “Gruit” pelo lúpulo!

Somente depois disso, veio a famosa Lei da Pureza de 1516, que determinou que os ingredientes a serem utilizados para a produção da cerveja eram a água, os maltes de cevada e o lúpulo.

Lei da pureza da cerveja de 1516.

Confira abaixo a transcrição:

“Proclamamos com este decreto, por Autoridade de nossa Província, que no Ducado da Baviera, bem como no país, nas cidades e nos mercados, as seguintes regras se aplicam à venda da cerveja:

Do dia de São Miguel (29 de Setembro) ao dia de São Jorge (23 de abril), o preço para um Litro ou um Copo, não pode exceder o valor de Munique do pfennig (lê-se fênigue e era uma moeda alemã usada na Idade Média).

Do dia de São Jorge (23 de Abril) ao dia de São Miguel (29 de setembro), o litro [nota: uma unidade equivalente ao atual litro] não será vendido por mais de dois pfennig do mesmo valor, e o copo não mais de três Heller (Heller geralmente é meio pfennig).

Se isso não for cumprido, a punição indicada abaixo será administrada.

Se todo cervejeiro tiver outra cerveja, que não a cerveja do verão, não deve vendê-la por mais de um pfennig por litro.

Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades, nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser cevada, lúpulo e água.

Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações, será punido pelas autoridades da corte que confiscaram tais barris de cerveja, sem nenhuma falha.

Se, entretanto, um comerciante no país, na cidade ou nos mercados comprar dois ou três barris da cerveja (que contém 60 litros) para revendê-los ao vendedor comum, apenas para este será permitido acrescentar mais um Heller por copo, do que o mencionado acima.

Além disso, deverá acrescentar um imposto e aumentos subsequentes ao preço da cevada (considerando também que os tempos da colheita diferem, devido à localização das plantações).

Nós, o Ducado da Baviera, teremos o direito de fazer apreensões para o bem de todos os interessados.”

– Guilherme IV Duque da Baviera

Discussão atual sobre a Lei de Pureza

Ainda hoje existem muita discussão sobre o sentido e o absurdo do regulamento:

Os apoiadores da lei gostam de argumentar que o Reinheitsgebot impede que a legislação alemã sobre cerveja seja alinhada com a legislação europeia. Eles argumentam que isso garantiria a qualidade da cerveja alemã, porque, ao contrário de alguns países europeus, os cervejeiros na Alemanha não estão autorizados a utilizar adjuntos, fontes de amido mais baratas como arroz ou milho.

Os críticos da Lei de Pureza dizem que ela é uma ferramenta para vender mais. Dizem que a cerveja na Alemanha ainda é fabricada de forma tão original e artesanal como era há 500 anos. O consumidor também não está ciente dos aditivos, às vezes controversos, que podem ser usados para clarificar a cerveja e torná-la mais estável. Alguns críticos também dizem que a lei de pureza é parcialmente culpada pelo fato de a cerveja artesanal ter entrado em cena tão tarde, porque ela impede a verdadeira diversidade da cerveja.

A cerveja artesanal e a lei da pureza

Entretanto, é errado supor que a cerveja artesanal e a Lei de Pureza não andam juntas de forma alguma. Na verdade, a grande maioria dos estilos de cerveja é possível dentro da lei de pureza: IPA, Pale Ale, Berliner Weisse, Baltic Porter. 

A base legal obrigatória para as cervejeiras artesanais e não artesanais da Alemanha é a “Lei Provisória do Imposto sobre Cerveja de 1993”. Segundo a lei, o que pode ser chamado de “cerveja” só pode ser feito com malte de cevada (para a cerveja de trigo também o trigo), lúpulo, água e levedura. As exceções são possíveis. Para isso, de acordo com o parágrafo 9, deve ser feito um pedido de “fabricação de cervejas especiais”, que geralmente é concedido.

Curtiu esse conteúdo? Conheça algumas curiosidades sobre a cerveja artesanal.

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